segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ele sempre olha pela janela. Sempre olha pro mar. 

E lá estava ele sentado no canto do ônibus com o livro aberto nos braços. E lá estava o outro, estirado descansando, deitado se renovando com cada onda que quebrava na beira. Lá estava o outro, tão gigante e pesado, tão deitado e cansado, por tantos tão maltratado. Lá estavam eles, um olhando pro outro, querendo se encontrar, novamente compartilhar a alegria de surfar. Lá estavam os dois, tão sozinhos com tanta gente. Tão sós, tão diferentes.

Talvez ele olhasse pro mar porque o intrigava aquela imensidão, ou quem sabe fosse só a ilusão hipnótica que o mar transmite pra gente? Talvez ele nem olhasse pro mar e sim pr'aquelas tantas nuvens vindo lá longe, como um exército marchando pra guerra, ou uma fanfarra em passarela. Mas, cá entre nós, eu acho mesmo é que ele olhava pro horizonte acima do mar, pro desconhecido por ele. Era vontade de andar. Pode até ser que eu tenha me enganado, mas acho que era isso mesmo que ele olhava. Ele achava interessante essa coisa que nos liga mesmo tão distante. Água.Talvez fosse só curiosidade, ou quem sabe fantasia. Sei que ele não tirava os olhos... E o outro nunca saia de lá, sempre o esperava em todos os fins de manhã, inevitavelmente no mesmo lugar, mas sempre em movimento.

Ele sempre olha pela janela, sempre em busca do mar.

Câmbio, desligo.

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